O Festival Folclórico de Parintins, um dos maiores espetáculos culturais do Brasil, enfrenta um momento delicado. A disputa entre os bois-bumbás Caprichoso e Garantido e o Governo do Amazonas sobre a gestão dos ingressos para o evento de 2025 tem gerado grande preocupação entre os organizadores e fãs do festival. No centro da controvérsia estão a autonomia das associações e o futuro da festa, que movimenta a economia local e é considerada patrimônio cultural.
Venda de Ingressos: Ponto de Conflito
A tensão começou com a publicação, em 17 de dezembro, de um edital pela Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa (SEC) para contratar uma nova empresa responsável pela comercialização dos ingressos. Segundo os bois-bumbás, essa decisão foi tomada unilateralmente pelo governo, sem consulta prévia, e viola a autonomia das associações que organizam o espetáculo.
Em nota conjunta, os presidentes do Boi Caprichoso, Rossy Amoedo, e do Boi Garantido, Fred Góes, afirmaram que não reconhecem a legitimidade da licitação. Eles destacaram que a comercialização dos ingressos é uma fonte essencial de recursos para custear o evento, incluindo o trabalho de artesãos, artistas e técnicos envolvidos na produção.
Impactos na Produção Cultural
Os bois-bumbás Caprichoso e Garantido também alegam que o edital compromete contratos já firmados, especialmente no âmbito da Lei Rouanet, podendo causar prejuízos financeiros significativos. A antecipação da receita dos ingressos é fundamental para o planejamento do evento, e o novo modelo, que prevê o repasse dos valores após o festival, inviabilizaria a logística e a execução do espetáculo.
Além disso, as associações argumentam que o ato do governo interfere em direitos autorais e contratuais, já que o festival é uma iniciativa privada realizada em um espaço público, o Bumbódromo de Parintins.
Irregularidades e Pressões Externas
Por outro lado, o governo do estado questiona a atual gestão dos ingressos, realizada há anos pela empresa Amazon Best, que mantém um contrato direto com as associações. A empresa é alvo de denúncias de monopólio e irregularidades, incluindo práticas abusivas na venda de ingressos e exploração econômica do festival sem concorrência pública. O Ministério Público de Contas do Amazonas (MPC) e o Tribunal de Contas do Estado do Amazonas (TCE-AM) já recomendaram maior transparência e abertura de concorrência no gerenciamento do festival.
O governador Wilson Lima declarou que o objetivo da nova licitação é reduzir custos e garantir maior transparência na venda dos ingressos. Segundo ele, atualmente, empresas chegam a cobrar taxas de até 50% sobre o valor dos bilhetes, enquanto outras prestadoras poderiam realizar o serviço por apenas 5%. Apesar do tom conciliador, Lima reforçou que está aberto ao diálogo com os dirigentes dos bois para evitar a ruptura.
Cultura x Política: O Futuro do Festival
Esse embate revela um conflito mais profundo entre autonomia cultural e gestão pública. Enquanto as associações defendem o controle total sobre o festival, incluindo a comercialização dos ingressos, o governo argumenta que é necessário equilibrar a tradição com práticas mais transparentes e econômicas.
Historicamente, os bois já realizaram o festival sem o apoio do governo, como em 2016, durante a gestão de José Melo, quando o evento foi totalmente financiado pelas associações. No entanto, perder o apoio estadual significa enfrentar desafios relacionados à infraestrutura pública, como segurança, saúde e turismo, além de arcar com os custos do Bumbódromo.
População e Fãs Aguardam Decisão
Para a população de Parintins e os amantes do festival, o temor é que a disputa administrativa prejudique o brilho da festa, que transforma a ilha amazônica em um palco mundial de cores, sons e emoção. A possível ruptura entre governo e associações ameaça não apenas a tradição, mas também o impacto econômico e cultural de um evento que atrai milhares de turistas todos os anos.
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